quinta-feira, 16 de julho de 2009

Do grupo de amigos, restávamos nós os dois… Perguntaste-me se ainda podíamos dar um passeio, para conversar, passar o tempo: não te apetecia ir para casa, meter-te na cama… Há dias, dizias tu, em que apetece rebelarmo-nos contra a rotina, contra coisas que até podemos gostar de fazer, como dormir. Sim, porque tu gostavas de dormir! Especialmente, da tranquilidade que se sente instantes antes de adormecer, em que parecemos vencidos por algo mais forte do que nós, algo que parece trazer um momento de paz, como se a vida nos propusesse tréguas e a própria terra desacelerasse em seu movimento, esperando por nós…
Falavas com calma, à vontade, sem pretensão de pareceres inteligente ou de dizeres algo verdadeiramente extraordinário… Falavas de forma simples sobre as coisas simples que compunham o teu mundo. Já me tinhas dito que te era fácil falar comigo. Na altura, perguntei-te a razão disso, mas não me soubeste dizer ao certo. Só passados uns dias, o fizeste: aparentemente, eu conseguia mais do que ouvir, eu escutava-te! Deste-me um beijo no rosto, enquanto me agradecias por ser teu amigo. E quando estávamos sozinhos, como naquela noite, tu falavas e falavas pelo gosto de falar, tão-só… Eu pouco te interrompia. Gostava de te ouvir. Sabia que, se fosse paciente, ia acabar por aprender mais qualquer coisa sobre ti. Quase sempre acontecia!
Ao passar por um jardim, decidiste sentar-te num banco e tirares um sapato. Algo estava a incomodar-te. Sentei-me eu no banco em frente. Reclamaste… Tão longe! E depois, soltaste uma pequena risada. Acusaste-me de estar a fugir, nas tuas palavras, ao cheiro do meu chulé… Rimo-nos um pouco da situação. Tinha de ser, continuaste, ou isso, ou, então, já devia estar cansado de te ouvir e fui para longe para ver se fugia de ti. Um pouco de silêncio… Sentado, com as pernas cruzadas bem estendidas para a frente, mãos nos bolsos, olhar no chão, deixei sair de mim, quase em tom de desafio, que não precisavas estar preocupada com isso, que, se eu quisesse, eu sabia como te calar. Intrigada e curiosa, logo aceitaste o desafio! Pois que eu tentasse então, que desse o meu melhor para te calar, que até querias ver se eu conseguia… Novo silêncio ao luar. Foi enquanto levantava os meus olhos ao encontro dos teus que eu o disse, em tom seguro, bem claro: “É simples! Eu amo-te…”
Como esperava, nem reagiste, tal foi a surpresa que tiveste. Olhei-te bem de frente, com um pequeno sorriso sereno, mas vitorioso… Baixaste a cabeça, expressão de espanto na face, coração acelerado no peito. Percebi um instante de medo em ti. Chamei pelo teu olhar, dizendo o teu nome uma vez, tão tranquilamente quanto me foi possível. E quando ele regressou a mim, uma palavra lhe dei para o receber: calma
Ao dizer que te amo, não estou a exigir nada de ti, nem tu ficas em dívida comigo por algo. Não tens de ficar atrapalhada por não me poderes dar o que eu não espero… porque, quando digo que te amo, não estou à espera que o digas de volta. Se o digo, digo-o, porque o quero dizer, porque o quero pôr cá fora, porque não quero guardá-lo dentro de mim como se estivesse a condenar este sentimento a uma pena de prisão no meu peito só por ele ter tido a ousadia de existir… Eu não quero isso! Eu quero-o livre! Quero dar-lhe a liberdade de poder ser dito, de poder ser falado… e de ser ouvido! Eu amo-te… Sim! E daí? O mundo não parou de rodar, o chão não se abriu para nos engolir. Nem eu me vou transformar num bicho papão, lançando-me sobre ti, forçando alguma coisa… Eu amo-te, sim! E quero dizê-lo descaradamente, porque não há razão para me envergonhar por isso. Não! Não vou ficar embaraçado por não me amares de volta! Não! Não vou correr para me atirar da ponte! Não! Não vou chorar rios de lágrimas pelo meu infortúnio no amor! Infortúnio? Infortúnio?! Eu amo! Caramba, eu amo! Que infortúnio há nisso? Ser capaz de sentir! Ser capaz de me abrir, apesar dos meus medos, das minhas inseguranças! Ser capaz de respirar fundo a vida em meu coração… porque o coração também respira! Eu amo-te, sim! E quero celebrar isso, porque amar-te é estar vivo! É ter o sangue a correr mais quente por mim. É ver o mundo mais cheio de cor… Eu amo-te, sim! E não vou fazer papel de coitadinho ou de desgraçado da vida. Não vou andar a arrastar-me atrás de ti, à espera de uma migalha tua. Não vou perder a minha dignidade, porque te amo, mas, antes, porque te amo, isso vai acrescentar à minha dignidade! Eu amo-te… simplesmente isso, amo-te! Extraordinariamente isso, amo-te! Não sou menos, nem estou diminuído por te amar. É o contrário: sou mais, sou melhor, estou mais forte. Hoje, vou além de mim, porque uma parte de mim é por ti. Compreende, por favor, que mesmo não me amando, tu fazes-me maior!... Não tenhas medo do que eu sinto por ti, que eu não terei medo do que tu não sentes por mim… Se eu vou chorar, se eu vou sofrer por não te ter? Pois que sofra, então! Desafio a dor a ser maior do que o amor que tenho por ti! Porque não é de dor que eu morrerei, mas só de amor… só de amor!