quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Usualmente, as pessoas riem mais do que choram. Ainda bem! Rir é um prazer (por vezes incontrolável), já chorar é uma necessidade (ninguém chora porque quer, mas porque precisa). Rir parece sempre ser algo melhor que chorar. Talvez por isso damos mais importância ao riso. Ao riso e não só… Também às circunstâncias em que normalmente ele aparece, e às pessoas que criam essa vontade em nós. Não será por acaso que um dos principais factores de atracção entre homens e mulheres é, precisamente, o humor e a boa disposição. Faz sentido que assim seja! O que já não faz sentido é que, nessa mesma lista de pontos de atracção, não conste, nem sequer lá bem no fundo, no último lugar, a capacidade de se poder chorar com alguém. Pode parecer a despropósito, afinal estou a falar de motivos de atracção, mas pergunto-me se será assim tão despropositado… É que fazer-nos rir qualquer desconhecido o pode conseguir, e nem nos sentimos inibidos de partilhar as nossas gargalhadas com quem mal conhecemos. Ao invés, as pessoas com quem choramos acabam, normalmente, por ser (ou por se tornar) especiais na nossa vida. É claro que pode haver momentos de descontrolo que, por natureza, não se conseguem evitar, mas há um certo decoro no que toca a esses momentos de maior fragilidade… Decoro e recato! Não queremos chorar à frente de qualquer um. Por isso mesmo, quase sempre a regra revela-se verdadeira: as pessoas com quem choramos são mais especiais para nós do que aquelas com quem rimos! As nossas lágrimas acabam por ser o nosso sangue vertido em transparência e revela-se um privilégio deixar alguém recolhê-las e limpá-las… É bom ter alguém que nos entusiasme e predisponha bem, que nos anime e puxe para cima, com quem se passe momentos de diversão e de gozo, claro que sim. Mas só quem já chorou acompanhado de quem, devendo, em princípio, ser próximo e íntimo, afinal não nos compreende, não nos ajuda, não sabe o que fazer, é que sabe a falta que faz ter alguém com quem se possa chorar… A verdade é que há muita gente divertida neste mundo que sofre de um autêntico analfabetismo emocional. Sabem rir e fazer rir, mas bloqueiam para o resto. É que a incompreensão que nasce e se revela nesses momentos é comparável a um rio que, tendo a sua nascente aí, vai desaguar, depois, na foz de uma solidão inesperada. Incompreensão gera a percepção e o sentimento de solidão. E, de repente, corre-se o risco de se ver aquela pessoa, que nós escolhemos ter por perto para partilhar a nossa intimidade, como uma estranha, uma desconhecida, alguém que mais parece estar do outro lado do mundo ainda que esteja no mesmo metro quadrado que nós…