segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Dou comigo a pensar em como é diferente ser pai e ser mãe. Digo-o em relação à forma como se vive a paternidade e a maternidade, mas sem querer entrar em “guerras dos sexos”, nem dizer que uma parte tem mais razão do que outra…
Se quiserem uma imagem: para os homens, ser pai, é como seguir por uma estrada, com mais ou menos curvas, mais ou menos sinuosa, mais ou menos acidentada. Mas há um caminho a seguir. Já para as mulheres, ser mãe não é nada disso, não há estrada nenhuma, nem caminho. Ser mãe é uma verdadeira prova de corta-mato (em que é o instinto que as guia), num sobe e desce constante a fugir às pedras mal seguras do caminho, das árvores tombadas ou dos ramos e espinhos que nos cortam a pele.
Para os homens, ser pai é uma coisa mais linear, mais clara, em que não há grande razão para medos, porque as coisas hão-de resolver-se, como se houvesse um mapa secreto que, com segurança, nos ensina o caminho. Para as mulheres, ser mãe é uma montanha russa de emoções e incerteza! Em certa medida, será por isso que elas se tornam mais fortes, porque, apesar de todos os receios, medos (e até daquele friozinho na barriga!), acabam por se ver a conseguir ultrapassar todos os obstáculos…
Para isso também contribui o facto de as mulheres começarem a ser mães bem antes de os homens começarem a ser pais. Um homem é pai a partir do nascimento do filho. A mulher é mãe antes disso. Quando ela se confronta com a gravidez, tudo começa a mudar, a sua vida deixa de ser a mesma: são os enjoos matinais dos primeiros meses, são os apetites súbitos por comida (os célebres desejos!), é a mudança de aparência com o crescimento da barriga, a limitação física dos movimentos, é ficar acordada à noite (porque é difícil dormir com alguém dentro de nós a dar pontapés e a divertir-se à brava!), é ter de andar a correr para a casa-de-banho pela pressão que se sente na bexiga, são mudanças mais pequeninas que vão desde, por exemplo, o umbigo que fica de fora espetado na barriga até ao modo como as suas gargalhadas soam porque não podem fazer muita força no ventre… Tanta coisa! E tudo isto vai ajudando a mulher a tornar-se mais e mais consciente para uma nova realidade: na vida dela, nada será igual! É logo na gravidez que muda de perspectiva, sentindo mais responsabilidade: a mulher já não é só ela, é ela e o filho que carrega. Na gravidez, é a própria mulher que muda, a visão que tem de si mesma, porque já não diz “eu” e passa a dizer “nós”.
Para os homens, não é nada disto! Para além de uns pequenos caprichos que a mulher vai tendo, nada se altera substancialmente. Tudo como dantes no quartel de Abrantes! E é por isto, por esta inconsciência em que o homem fica, que, mesmo depois do nascimento, o homem reage às mudanças que um filho traz com muito mais resistência. Sendo eu homem, sabendo como os homens pensam, aposto que à esmagadora maioria ocorre um pensamento: “isto de ser pai é uma chatice!”
Mas há ainda uma diferença da qual não falei.
A maior diferença, entre ser pai e ser mãe, encontra-se numa pequenina (grande!) coisa: os homens, quando a mulher está grávida, dizem e pensam que vão amar muito o filho que aí vem, mas as mulheres não vão amar, porque elas, na gravidez, já amam! E como amam! Pois se o seu corpo se abre todo para acolher um novo ser, como seria possível que o seu coração não se abrisse também?
A mãe começa a ser mãe antes do pai começar a ser pai, e ela começa a amar mais cedo e com mais intensidade que o pai. Aos seis, dez ou quinze anos de idade do filho, mãe e pai podem amá-lo de maneira igual, mas no início há muitas diferenças! E eu acho que há muitas mulheres que se desiludem bastante com os homens, porque se apercebem (ainda que instintivamente) disto tudo e não o compreendem… acabam por atirar as culpas para o egoísmo dos homens ou para a sua insensibilidade.
Quando penso em tudo isto, penso que, especialmente nos primeiros tempos, ser pai deve ser, sobretudo, um acto de humildade. De perceber, após o nascimento, que a sua história com o filho começa ali, mas que, antes da sua, já existia a história da mãe com o filho desenvolvida no ventre. (Mas e daí… talvez que os homens até possam começar a ser pais mais cedo, antes do nascimento, desde que tenham a humildade de amar por interposta pessoa, pela mãe, amando-a ainda mais, se possível for…)