quinta-feira, 10 de julho de 2008

Vi chegar ao longe uma sombra de ti… A cabeça baixa, numa atitude própria de animal ferido que implora a misericórdia de não ser mais incomodado. Os braços cruzados, apertados em sinal de um frágil equilíbrio prestes a desmoronar se se separassem. O passo desgastado, na cadência quase morta do estampido dos tacões contra o chão. Uma figura vazada em contagem decrescente para chegar a casa e poder respirar de novo. Sentas-te no degrau de acesso à tua porta. Sem chaves. De fora. É como te sentes… Posta de fora! De casa, do casamento, da vida… Porque é que ele tinha de ser tão cruel? Porquê mandar-te sair do carro, no meio da estrada, no meio do trânsito? Porquê mostrar-te aquele olhar de desprezo com que te feriu? Porquê empurrar-te para fora da vista como quem te empurra para fora do coração?

Dobrada sobre ti mesma, aninhada no choro inevitável que te toma, pões o mundo de fora, porque todo o teu espaço é consumido pela dor.

Como chegaste tu a este ponto? Como?... As lágrimas, incontroláveis, turvam-te a vista numa escuridão de futuro. O que vai ser agora? Como vai ser? É o teu coração o que seguras na tensão muscular dos teus membros. Como podem duas pessoas que se amaram tanto passar por isto?

Põe-se o sol, ao longe, no horizonte, como se se envergonhasse de brilhar tanto na tua aflição, como se se compadecesse de ti… Com ele, sento-me eu também contigo, sem que o saibas. Mando calar o tempo em respeito por ti, que se aquiete, que passe de fininho, inadvertidamente. Choro contigo por chorares sozinha. Cúmplice da tua dor, estranho à tua atenção. Chora… chora… Chora até que venha o cansaço feito consolação!