sábado, 11 de julho de 2009

Hoje, estou zangado com a vida, porque ela, a vida, não espera por mim no caminho que toma… Sinto-a fugir à minha frente despreocupada de mim, como se eu não contasse, como se não se importasse, como se houvesse outro sítio melhor para ela estar que não ao meu lado… Sinto-me atropelado pelo sentimento de abandono que ela me provoca, aturdido pelo choque que me causa a sua indiferença, soterrado pelo peso súbito de uma avalancha de solidão… E ela, a vida, não pára de ir! Quanto mais o tempo passa, mais longe ela se afasta de mim, sem sequer olhar para trás para uma, ou até meia, palavra de incentivo… Não mereço nem um olhar, uma expressão. Nem o amor que sinto por ela parece fazer diferença. Ela, a vida, vai! Fico eu… Sozinho com este sentimento de traição, sozinho com esta esperança já morta de, um dia, fazer par com ela, sozinho com a lágrima que o meu coração já chora de saudade… Foi tanto o bem que eu imaginei com ela! Foi tanta a expectativa que eu alimentei por amor ao amor que senti por ela! E foi tão cheio deste tanto que ela, a vida, me deixou… e, ao deixar-me, levou consigo o tanto que tão cheio me fazia… e já só é vazio que eu fico. Esventrado de meu sonho, despojado da ilusão, translúcido na dor… Era uma vez o meu amor!
Porque não esperas por mim? Porque tenho eu de ficar sem força para cuidar do sentimento que tu desprezas? Porque tem de ser esquecido o que merecia ser imortalizado? Porque não pára o tempo, nem se inquieta o mundo com este sofrimento? Porque se sucedem os dias indiferentes ao meu soluço abafado e à injustiça que me fazes? Porque sou eu grande o suficiente para sentir tanto, mas tão pequeno para poder tão pouco? Porque choram os meus olhos a pena a que foi condenado o meu imo? Porque se fazem convulsos os soluços que já nem seguro? Porque me sinto rebentar num grito de revolta, que me revolta ainda mais, porque só revela a minha impotência?... Porquê?
E porque, mesmo cansado, não me canso eu de manter a esperança de ainda a ver regressar?
Não quero dizer adeus!



Não quero…
Resigno-me a ser seu. Resigno-me a ser dela, a vida. Que não se fechem os olhos… que não se chame o sono para me embalar… que o corpo não caia inerte no vácuo em que se sente a alma… Se ela, a vida, me deixa, pois que não me deixe de vez. Porque a amo, ainda que me faça sofrer… Porque a amo, ainda que me dê abandono… Porque a amo, ainda que me despreze…
Quero comer à sua mesa. Não interessa o lugar! Não interessa se for o último. Não interessa que só haja meio banquinho de criança dividido com outro: eu como com o prato na mão! Porque há mesas em que já é um privilégio haver um espaço para nós. Vale a pena. E, se não for possível, eu posso sentar-me no chão, com o gato ou o cão, porque até das sobras e das migalhas eu me posso alimentar…
Se ela, a vida, foge de mim, deixem-na fugir… deixem-na ir… Que sopre o vento, que passe o tempo, que se suceda o frio ao calor e o calor ao frio… Hei-de depositar o meu olhar no horizonte à espera do seu regresso, hei-de fazer dele a fonte em que sacio a loucura e o meu excesso… Por ela, a vida, não cederei à despedida!