sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Página do diário imaginário de uma mulher

“ (…) Cheguei à conclusão que não me apaixonei por ti, mas pela ideia de te ter e de seres meu. Acho que foi esse o meu primeiro erro. Céus! Ainda hoje me recordo bem como tudo em ti parecia brilhar… O porte físico, o sorriso (que sempre me parecia desarmar), a inteligência, a simpatia, a boa educação, o respeito que todos te tinham, até a tua família e o seu prestígio, a sua posição. Havia algo em ti, algo que atraía, uma espécie de íman. Contigo por perto, qualquer lugar se iluminava de interesse. Nenhuma mulher te ficava indiferente. Qualquer uma ficava impressionada! Como eu fiquei, no fundo… Parecias um príncipe encantado. Eras irresistível. Quem quer que te conquistasse, tinha de ser especial, não podia ser menos do que isso. E eu decidi que tinhas de ser meu. Tinha de ser eu essa mulher especial, tinha de ser… Depois disso, eu estaria realizada com o homem perfeito ao meu lado, uma princesa para todos verem. Sonhei tanto! Sonhos tão lindos… Como não me apaixonar por eles? Eu acho que nem procurei conhecer-te direito, acho que tenho de confessar que, mesmo quando casámos, ainda eras em grande medida um estranho para mim… Ai que vergonha!!! Oh, Magda, o que foste fazer? Tu sabes o que fizeste, mesmo que te custe confessar… Tu manipulaste, tu seduziste, tu perseguiste, tu não lhe deste descanso, tu não desististe até arrancares dele o tão desejado compromisso! Mas é que tudo em ti, Álvaro, parecia melhor, parecia mais, ganhava cor. Tudo o que te rodeava, uma aura… E também fui ingénua em acreditar que depois de casados as coisas se iriam compor. Que só era necessário casar, que tu ias ver, que eu te ia convencer. Que o amor que eu imaginava sentir por ti ia ser suficiente. Eu só tinha de conseguir chegar lá. Acho que foi o meu segundo erro. Há coisas que não se devem procurar ter a não ser da maneira certa. De outra sorte, não valem a pena. Quis a todo o custo casar… Quis porque quis, porque só a ideia de não te ter já me sufocava. Forcei, encantei, seduzi! Levei-te a seguires o meu canto como se de uma sereia eu me tratasse… Acreditava mesmo ser a pessoa certa para ti, que só precisavas de uma ajuda para o veres também! E para quê? Quando as coisas não encaixam, elas não encaixam mesmo! Podemos lutar, podemos esbracejar e pontapear, podemos, cansadas, suplicar… O que não tem remédio, remediado está. E nós não tínhamos remédio. Como se tivéssemos tomado um veneno demasiado forte. Um veneno que eu nos dei a tomar! Ai a culpa que carrego!!! Porque me encantei assim tanto? Porque me iludi tanto? E porque não disseste nada? Porque não fizeste nada, Álvaro? Porque alimentaste tudo com as tuas omissões ou consentimentos? Porquê?... Cobarde! Criança! Não tiveste tomates para escolheres o teu rumo na vida, para assumires o que de facto querias! COBARDE!!! Deixaste-te ir conforme te dava jeito, foi isso, não foi? Quiseste sentir como era ter o poder sobre uma pessoa disposta a fazer tudo por ti, não foi? Estúpido! Usaste-me enquanto encontraste utilidade em mim… Falso! Vai aprender a ser homem… A saber como se trata uma mulher! Porque foste medroso e não soubeste te afirmar! Banana! Tinhas de me deixar assim, não era? Em cacos! E já passou um ano… Um ano! Um ano e só me apetece fugir, varrer-me para o lixo e pronto. Mais vale… Mais vale do que andar aqui a tentar colar caco com caquinho! Que parece doer mais… Ainda dói tanto… (…) ”