quinta-feira, 11 de setembro de 2008


Sete anos de testemunho

Um grupo de homens prepara, durante meses a fio, a execução da própria morte. Com paciência, até chegar a hora, vivem, resignadamente, cada dia, para morrer. Carregam o fardo de saber que são mortos-vivos, que a única expectativa das suas vidas é o seu fim, que a morte os guia, os espera e preenche. Já não sabem sonhar, a não ser sobre o momento em que abraçarão o seu destino. Já não sabem chorar, porque as lágrimas perderam o seu sentido. Já não sabem viver, porque as trevas os embriagaram em brando sono.

Escolhem um dia: uma terça-feira de Setembro. Escolhem a manhã para o ocaso do seu tempo. Não vão sós! Centenas tombam às mãos da desumanização que eles plantaram e nutriram em si, e da qual não desarmaram até ao fim…

Uma nuvem de pó gigantesca ergueu-se, então, por entre as ruas da cidade, como sinal da concretização dos seus intentos, espalhou-se, muito para além dos seus limites, e envolveu todo o globo nesse dia, na exacta proporção da nuvem de incredulidade que envolveu o nosso coração.

E, finalmente, sobreveio o silêncio… Cessaram os comentários pela inutilidade que representavam. Calaram-se as vozes, porque, por momentos, se fez muda a esperança em nós. Caíram os olhares para o chão ao mesmo tempo que nos caía em cima o peso de uma nova realidade. E, espontaneamente, se impôs o silêncio…

Ficaste tu, dia de sol eclipsado de Setembro, como testemunha triste do que um espírito empedernido em ódio é capaz.

Ficaste tu, terça-feira de choque, para denunciar a cegueira que conduz aquele que se recusa a abrir o coração.

Ficaste tu, para nos recordar, insistentemente, por contraste de tanta insanidade e loucura, através da dor e do sofrimento, que o único acto verdadeiramente racional é o amor…