quarta-feira, 21 de maio de 2008

Há uma imagem tua que não consigo esquecer. De uma solidão tranquila ao entardecer. Uma expressão suave que te carrega o rosto. Que quase te denuncia nesse teu jeito posto. Não se te vê alegria, apenas serenidade. Género de tristeza contida, sem desespero e sem vaidade. Aí te vejo como uma bela adormecida de olhar desperto, à espera de algo de um teor incerto. Será o desejo de uma paixão? Será um desencontro no amor? O que se esconde em teu íntimo por detrás desse pudor? Teu olhar perdido, atirado para o chão, parece temporariamente vencido por alguma desilusão… Por tua causa sei que existe no ser humano mais esta lei: não é preciso ver copiosamente alguém chorar, para se reconhecer as lágrimas no seu esgar. Não sei em que pensas, nem o que te ocupa a mente, mas quero muito que venças a dor que tão forte se sente.
O teu vestido cor de creme, de pequenas flores estampado e cinto de pano à cintura, não se inibe nem teme revelar, do teu corpo, o traçado e, da mulher que te fazes, a figura. Porém, da tua face, não é isso o que fica na retina, mas a certeza de quem guarda um coração de menina! Sente-se que és tão mais do que se vê, do que se possa enxergar, que esse será o meu porquê de não resistir a te admirar. Permaneces de pé, pela sombra abraçada, como se te faltasse a fé e te rendesses ao nada… Mas olha como a luz se reflecte à tua frente, num brilho que seduz de um calor incandescente. Repara como quase te toca, como quase te chama, como quase se encosta para saberes que te ama!
Há uma imagem tua que não consigo esquecer… Em que se te vê a alma nua – se é que isso pode ser! Uma expressão de fragilidade, que me comove e me deixa sem defesa, que me faz render em verdade a tão inexplicável beleza.