quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Não podendo ter os dois, o que será melhor? Ter um coração bom ou ter o discernimento para saber o que é o bem? Se eu tiver um coração bom, mas sem discernimento, posso fazer aquilo que considero certo, embora objectivamente seja errado… Por outro lado, se tiver o discernimento para conhecer o bem, mas não tiver um bom coração, ainda que saiba o que devo fazer em meu íntimo, provavelmente deixarei o meu egoísmo guiar-me, na prática, para bem longe disso… O que é melhor então?

Cheguei a acreditar que, discernir o bem, seria o suficiente. Isto, porque não conseguia perceber como seria possível ter-se esse conhecimento do bem sem que, ele próprio, por si só, não fosse bastante para vencer a nossa maldade… Ainda que lhe resistíssemos, ele revelar-se-nos-ia irresistível à consciência.

Com o tempo, porém, fui descobrindo que não era assim tão simples. Ter-se o sentido do certo, do bom, do justo, não é senão um teste, uma prova de fogo ao bem que existe em nós. Porque sabemos o que é o bem, não há nada que nos impeça de o praticar. Se formos capazes de o discernir, devemos ser capazes de o operar. Saber implica maior responsabilidade: a responsabilidade de nos identificarmos com ele! Acontece, no entanto, nem sempre estarmos preparados para dar tanto de nós. É que, discernir o bem, é perceber que há algo maior do que nós e ao qual devemos consideração e deferência… ao qual devemos abnegação! No fundo, abrir espaço para deixarmos que ele exista materialmente, experiencialmente, através de nós, por nós. Ora, é isto que nem sempre é fácil. É isto o que, nem sempre, se está preparado para dar: a renúncia ao nosso egoísmo, ao nosso interesse, à nossa paixão, à nossa conveniência, à nossa ilusão… E se não renunciamos a isto, então vamos acabar por renunciar ao bem que, apesar de conhecermos e discernirmos, não acolhemos. O que nos pode colocar ainda mais longe dele do que no tempo em que não o sabíamos ajuizar, porque colocamos a barreira da nossa vontade, de escolha, entre nós e ele. Afastamo-nos…

Hoje, acredito que o mais importante é ter-se um bom coração. Porque, por mais errados que possamos estar, ainda assim estaremos sempre muito mais perto de acolher o bem quando ele se nos revelar. Será uma questão de ignorância e não de maldade… como crianças que não sabem mais, nem sabem melhor.