sábado, 7 de fevereiro de 2009

Uma pomba levou-me até ti…
Virava a esquina, no meu passo costumeiro, com a mente desocupada, deixando o vento, que se fazia sentir frio no meu rosto, passear-se solto também dentro de mim, varrendo as ideias para o futuro que as traria de regresso… Como folhas secas de árvore num remoinho ocasional. No chão, apareceu ela, a pomba, ostentando uma pose quase de desafio, com as suas patas percorrendo a meias o meu caminho, preguiçosa da vida, com um olho sempre atento ao ritmo do meu passo. Foram uns metros ainda de resistência ao seu instinto de debandar, mas só foram uns metros… Logo bateu as asas e cavou, entre nós, uma distância em extensão e altitude, para longe do meu alcance. E foi aí que, ao segui-la somente com o olhar, nessa descolagem improvisada, ela te trouxe à minha memória! Ao fundo da rua, passou, em sua trajectória, bem perto de alguém com a tua figura que vinha em sentido contrário, de mão dada talvez com o amor, talvez com a paixão, talvez até somente com um deleite de ocasião… Não eras tu. Mas foste tu que me surgiste. Nas asas de uma pomba, voou o meu pensamento sem saber que se iria lançar em teus braços distantes…
Nunca sabemos como acabam as viagens que começamos. Mesmo as viagens involuntárias… sobretudo as involuntárias! Como esta: uma viagem ao passado não planeada. Perguntei-me onde estarias. Perguntei-me se a ti também te aconteceria isto, de me encontrares por acaso ao virar de uma esquina, ainda que não fosse eu. Perguntei-me se te lembrarias de mim de todo, e que lembrança guardarias. Um instinto misto de incómodo e de tristeza atacou-me, de súbito, à suspeita derrotista de já nem saberes quem eu era… Tive dúvidas sobre a razão desse incómodo. Pensei.
Talvez que eu quisesse viver para além de mim e dos meus limites. Sentir-me-ia maior do que o que sou, se vivesse nas tuas recordações. Não se pergunte a razão… Não gostaria de ter de confessar a tacanhez da minha vaidade. Julgo não ser o único, porém. Porque aspira o ser humano a ser mais do que é? Porque se reconforta a alma com a ideia de ter multidões a assistir ao enterro do corpo, mas logo se transtorna o espírito com a ideia contrária de por lá não haver ninguém? Porque não se encontra a paz na simplicidade de ser? É assim tão pouco… o existir? Será assim tão vulgar?
Porque tenho de ser mais para, só então, me poder conciliar com o que sou?
Nas asas de uma pomba, o meu pensamento se elevou…

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