segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Saberá de mim quem, de mim, souber,
Porque, de mim, sei já que desconheço
O que, para saber, de mim, houver,
Menos aquilo que tão bem pareço
A quem, de mim, pensar o que aprouver,
Mas sem chegar a ver o meu avesso…
Emudeça, pois, quem, de mim, disser
Mais do que o pouco que eu tão-só mereço!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Sombra minha, pejada de quem sou,
Vertida sobre solo regelado,
Nunca tão triste foi o teu passado,
Nem, tanto de mim, em ti, se encontrou!

Foi o destino meu que me entregou
Ao teu seio, por frio, dominado,
Onde, de qualquer luz, me vi privado…
Onde o contentamento se apagou…

Coberto por teu véu, minha ventura,
Comigo se confunde a noite escura,
Das sombras, a segunda após a morte…

Mas, porque tem sabor a sepultura,
A treva tua que, em mim, bem perdura,
Se, então, do que ela, não és tu mais forte?

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Vou confessar-te o pecado
Que, sem saber, eu cometi:
Por, demais, ter amado,
Até de mim, eu me perdi…

Amor tanto, em peito fechado,
Só à loucura pode levar,
Porque, nem de água, é achado
Mais cheio o próprio mar…

Afundei-me neste fado
Que, por canção, confundi!
De início, nada pesado…
Só mais tarde, o percebi.

Hoje é, por mim, desejado,
O caminho reencontrar,
Que coloque no passado
O muito que me vi pecar…

Vou confessar-te o pecado
Que, por ti, eu cometi:
Por, demais, ter amado,
Até de mim, eu me esqueci…

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Preciso parar o tempo que se evade –
Furtivo, dissimulado e implacável –
Por entre os dedos fracos da vontade
Que, desesperada, o sente imparável…

Preciso aplacar a necessidade –
E a urgência minha inexplicável –
De me apaixonar pela verdade,
De me fazer menos condenável…

Preciso tanto de poder respirar
Tão fundo, quanto a alma possa,
Para, de mim mesmo, me libertar…

Mas o tempo, cruelmente, troça
De tudo o que teimo em tentar
E que, só de frustração, me engrossa…

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Como pode, em meu peito, caber
O tanto que alcança a vista?
Como, do que vejo, nada perder
E que, em vertigem, me conquista?

De imensidão me encho, ao ver
(Sem protecção que lhe resista)
A vastidão que, humilde, faz ser
Toda a presunção que me assista…

Sensações tais, que fico sem saber
Ao certo o que sinto ou o que penso…
Será que algo há por dizer?

Parado fico, despido de senso,
Vencido sem sequer, lutado, ter…
Sujeito à mercê do que é imenso!

sábado, 19 de setembro de 2009

Saudade de mim, ávido de futuro!
Ansioso por cada nascer da aurora…
De esperança, cheio e seguro,
Ainda que fosse longa a demora
Por, meu destino, se fazer maduro,
Por se fazer certa a minha hora!

Saudade de mim, grávido de manhãs!
Pai de mil e um sonhos auspiciosos,
Que nunca deixaram tornar-se vãs
As agonias de dias caprichosos…
E que sempre impediram as cãs
De surgir por motivos perigosos…

Saudade de mim, que triste me faço!
Como num nevoeiro, perdido da fé…
Espelho que só reflecte, por ser baço,
A sombra de um alguém que já não é,
E que, a si mesmo, armou o vil laço
De, cego, sua sorte julgar e fazer ré!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Amei sem te saber, de espinhos, feita,
Por teu gentil perfume, seduzido…
Que, levemente, em tão doce maleita,
Me enredou, sem me ter apercebido!
Com risco grave, meu sentir se ajeita,
Por, entre espinhos, se ver recebido,
E, dos seus picos, ter tanta suspeita,
Que, para sempre, se teme perdido…

sábado, 12 de setembro de 2009

A mais difícil lição de vida consiste em perceber que nada vale a pena, se não for alcançado da maneira certa… Não se queira subir ao cimo do monte, de qualquer jeito, só por subir. Pode ser que a vertigem, que nos empurra encosta acima, seja a mesma que, uma vez chegados ao cume, depois nos faça cair!
É bom ter-se planos, traçar-se objectivos e trabalhar para os concretizar. Mas há uma vitória maior, e, sobretudo, uma vitória melhor, do que alcançar aquilo a que nos propusemos… que é não forçarmos a realidade a dobrar-se perante a nossa vontade, com o sacrifício de Valores pelo meio! Não impormos os nossos desejos só porque os queremos muito realizar… Os nossos planos não nos eximem ou dispensam da responsabilidade de bem agir, mesmo que isso torne ainda mais difícil o caminho que escolhemos. Os fins não justificam os meios… Por maiores que os nossos sonhos sejam, eles não hão-de ser maiores do que nós… E isso é, também, uma caminhada na descoberta de um equilíbrio: a aceitação do que não é possível, mas sem resignação. Não saber aceitar equivale à confissão da nossa presunção ou falta de humildade, e resignar-se equivale à confissão da nossa preguiça.
Tudo isto implica sermos capazes, por vezes, de dizer não à nossa vontade, aos nossos desejos, aos nossos sonhos. Porque até os sonhos se transformam em pesadelos! Por mais que isso nos pareça impossível…
Capacidade de abnegação! Esta é a verdadeira – e eterna! – luta do ser humano. O nosso carácter revela-se quando aquilo que se quer está à distância do que se pode, mas à margem do que se deve…

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Não quero a esmola do teu ser!
Ou eu te tenho toda inteira –
Bem intensa, e não ligeira! –
Ou prefiro, de todo, não te ter…

Não quero, um olhar de pena, ver!
(Simpatia comezinha, quase grosseira…)
Não há, de bom grado, quem isso queira,
Menos quem já não domina seu querer!

Se não me podes amar,
Nem tens como, isso, aprender,
Então, nada tens para me dar…

Porque só o amor pode valer
À angústia que, por mim, passar
De, te completar, eu não poder…

sábado, 5 de setembro de 2009

Distante estás de mim, bela esperança,
Que iluminas caminhos a mil gentes,
Que inspiras, firme, tantos à mudança
E, vigor trazes, aos que estão doentes!

Sem ti, meu cor não pára, nem descansa,
Atingido por dores tão frequentes,
Que carregam com males, a lembrança,
De passadas tristezas bem candentes…

Dá-me o calor de que tanto preciso!
Que, mal, me acho, com tão grave ferida,
E, para a morte, já lesto, deslizo…

Dá-me a paz, por mim, muito pretendida,
Que, no rosto, renova o meu sorriso
E, no peito, renova a minha vida!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Perdi-te, sem nunca te ter tido,
Porque te achei minha por engano…
E, de uma mentira, convencido,
Fiz um amor nada profano!

Em teu seio me vi protegido,
Longe de qualquer mal ou dano…
Mas, quando a verdade fez sentido,
Na crua verdade me fiz insano!

Como é triste, afinal, não ter
O tanto que dei por certo,
Cujo horizonte julguei ver…

Como é triste não estar perto
De, em teus braços, adormecer
E, por teu amor, me sentir coberto…

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Pouco sou para quem eu tanto quero!
Sonho desfeito em dor que me atormenta…
Lágrima que, em si, leva amor sincero
E que, de amor, me deixa a alma sedenta…

Custa descobrir a verdade triste,
Que se esconde em tão grande ilusão minha:
Só dentro de mim é que, enfim, existe
A paixão… que, ora, se vê tão sozinha!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Estéril, eu me vejo… e tão cansado!
Sonâmbulo… na vida que me escapa…
Dormindo, mais do que mal acordado!
Perdido vou, sem norte, rumo ou mapa…

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ontem, chorei! Madrugada adentro…
Deixei os meus olhos navegar por entre a minha dor. Deixei-a transbordar para se dar a conhecer ao mundo. Mas, no silêncio do meu quarto, o mundo dela não soube. As quatro paredes que contiveram o meu choro são as mesmas que me fizeram chorar.
Confrontei-me com a minha verdade: sou sozinho. Mais do que estar, sou sozinho! E chorei… sozinho, chorei a minha solidão. Que outro destino há-de ter o solitário senão ser e chorar solitariamente?
Ondas compulsivas de desespero deram à costa do meu ser. Tomaram conta de mim… e eu não lhes resisti, não me debati. Naufraguei com um rombo na minha alma. Flutuando no nada, dediquei-me a procurar a terra firme da esperança. Mas quatro gigantes me cercaram, quatro paredes me impediram de ver mais longe. Ceguei-me com o mundo na noite! O resto do mundo, cego de mim, e, eu, cego de fé…
Doía tanto que chegava a doer o coração do meu coração.
A minha aflição passa na noite como o Sol do outro lado da Terra: brilha, brilha muito, só não se vê. Apenas eu a sinto, queimando por dentro. E, ontem, queimou tanto que me desfiz em cinzas… São elas que, hoje, se espalham pelo papel. Para o mundo, sujidade; para mim, desespero!
Ontem, percebi que sou pouco. Percebi que sou o nada que não queria ser. Não importa o que faço, não importa o que sinto, não importa o que escrevo. Para ninguém faz diferença… ninguém quer saber…
Novo assalto de agonia.
Fui à procura do céu. À procura de uma luz. À procura de um brilho especial. Desejei ser criança outra vez. Lembrei como, nessa altura, o sono vinha depressa para secar as minhas lágrimas. Perguntei-me porque razão ele teria deixado de vir assim, solícito, ao meu encontro. Mais um que não me vê…
Quem sou eu?
A pergunta não a fiz, porque nunca deixou de estar presente. Implícita na própria dor! Parte integrante… Ocupou-me o pensamento só o ponto de interrogação. Já bastava. O enigma que, aparentemente, não consigo resolver. Mas eis que, devagarinho, afinal, o sono sempre me encontrou…
E fez-se dia outra vez!

Em Deus, descubro que tudo tem o seu tempo. Em Deus, descubro que tudo, em mim, importa, mesmo que não importe para mais ninguém. Em Deus, descubro que ser, ainda que sozinho, tem dignidade suficiente. O nosso Valor não está no valor que os outros nos dão ou nos reconhecem… E esta verdade há-de ser a nossa tristeza e a nossa felicidade!
Ser é ajoelharmo-nos perante a Vida e darmo-nos a Ela para Ela também ser por nós… Ninguém me pergunte quem eu sou, quando apenas se deve saber que se é!
A noite passou… e eu? Eu recuperei a minha fé…

sábado, 1 de agosto de 2009

Não fique o coração, pobre e ferido,
Ante, tristezas mil, amargurado…
Que o tempo tudo cura… bem faz ido
O mal que, parte fez, desse passado!

Não se quede, em vãs dores, só retido,
Já que, em vãs dores, não se acha amparado
O desejo que, em nós, se faz querido
De muito amar e muito ser amado!

Não se alarme a voz que, meu fado, canta…
Mesmo que o choro venha de fininho,
Só para ver se, de susto, me espanta!

Se chorar… Pois que chore de mansinho!
Domine a dor que, logo, se agiganta
Antes que me enfeitice com carinho…

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Após a tempestade, lá bonança vem,
Como, depois da noite, rompe o dia…
E, com tal luz do sol, nasce por nós, também,
O que, esquecido, tanto e muito se cria:

A fé… que nutre a paz que pouco se tem,
E derrota esse medo, grave e forte,
Que, depressa, procura curvar mesmo quem,
Com talento, procura ter melhor sorte!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Pus o coração onde não devia
À espera de receber amor
Mas de tudo o que por lá havia
Nada recebi que não fosse dor

Tão pequeno me fiz e não sabia
O pouco que era o teu calor
Que nem se sente e logo s’esfria
Gelando minh’alma com seu rigor

Chore pois por mim quem de mim souber
Para com seu choro me aquecer
Se tão quente choro em si houver

Chore que inda pouco há-de ser
O muito que por mim chorar puder
Já que tão grave é o meu sofrer

terça-feira, 28 de julho de 2009

Uma adaga por mim adentro
Fria rasgou meu peito
Atingiu-me bem no centro
Onde a alma toma o leito

Sombrio se fez o mundo
Num instante de negro vestido
Ai quem me acode que m’afundo?
Ai quem me acode que m’agrido?

Porque esta dor que me dou
Faz-se maior do que o que sou
E permanece a mim unida

Porque esta dor por onde vou
Está comigo onde eu estou
E de mim me suga a vida

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cansado de estar triste
Ponho meus olhos no céu
E choro a dor que insiste
Em se fazer tormento meu

“Senhor!…” – por Ti eu clamo
Na hora do meu desespero
A Ti recorro e por Ti chamo
Para levares da dor o exagero

Não deixes que se agigante
O que a mim faz tão pequeno
E do sossego me tem errante

Não deixes que o seu veneno
Por mim s’espalhe e m’encante
Para da morte me fazer pleno

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Do grupo de amigos, restávamos nós os dois… Perguntaste-me se ainda podíamos dar um passeio, para conversar, passar o tempo: não te apetecia ir para casa, meter-te na cama… Há dias, dizias tu, em que apetece rebelarmo-nos contra a rotina, contra coisas que até podemos gostar de fazer, como dormir. Sim, porque tu gostavas de dormir! Especialmente, da tranquilidade que se sente instantes antes de adormecer, em que parecemos vencidos por algo mais forte do que nós, algo que parece trazer um momento de paz, como se a vida nos propusesse tréguas e a própria terra desacelerasse em seu movimento, esperando por nós…
Falavas com calma, à vontade, sem pretensão de pareceres inteligente ou de dizeres algo verdadeiramente extraordinário… Falavas de forma simples sobre as coisas simples que compunham o teu mundo. Já me tinhas dito que te era fácil falar comigo. Na altura, perguntei-te a razão disso, mas não me soubeste dizer ao certo. Só passados uns dias, o fizeste: aparentemente, eu conseguia mais do que ouvir, eu escutava-te! Deste-me um beijo no rosto, enquanto me agradecias por ser teu amigo. E quando estávamos sozinhos, como naquela noite, tu falavas e falavas pelo gosto de falar, tão-só… Eu pouco te interrompia. Gostava de te ouvir. Sabia que, se fosse paciente, ia acabar por aprender mais qualquer coisa sobre ti. Quase sempre acontecia!
Ao passar por um jardim, decidiste sentar-te num banco e tirares um sapato. Algo estava a incomodar-te. Sentei-me eu no banco em frente. Reclamaste… Tão longe! E depois, soltaste uma pequena risada. Acusaste-me de estar a fugir, nas tuas palavras, ao cheiro do meu chulé… Rimo-nos um pouco da situação. Tinha de ser, continuaste, ou isso, ou, então, já devia estar cansado de te ouvir e fui para longe para ver se fugia de ti. Um pouco de silêncio… Sentado, com as pernas cruzadas bem estendidas para a frente, mãos nos bolsos, olhar no chão, deixei sair de mim, quase em tom de desafio, que não precisavas estar preocupada com isso, que, se eu quisesse, eu sabia como te calar. Intrigada e curiosa, logo aceitaste o desafio! Pois que eu tentasse então, que desse o meu melhor para te calar, que até querias ver se eu conseguia… Novo silêncio ao luar. Foi enquanto levantava os meus olhos ao encontro dos teus que eu o disse, em tom seguro, bem claro: “É simples! Eu amo-te…”
Como esperava, nem reagiste, tal foi a surpresa que tiveste. Olhei-te bem de frente, com um pequeno sorriso sereno, mas vitorioso… Baixaste a cabeça, expressão de espanto na face, coração acelerado no peito. Percebi um instante de medo em ti. Chamei pelo teu olhar, dizendo o teu nome uma vez, tão tranquilamente quanto me foi possível. E quando ele regressou a mim, uma palavra lhe dei para o receber: calma
Ao dizer que te amo, não estou a exigir nada de ti, nem tu ficas em dívida comigo por algo. Não tens de ficar atrapalhada por não me poderes dar o que eu não espero… porque, quando digo que te amo, não estou à espera que o digas de volta. Se o digo, digo-o, porque o quero dizer, porque o quero pôr cá fora, porque não quero guardá-lo dentro de mim como se estivesse a condenar este sentimento a uma pena de prisão no meu peito só por ele ter tido a ousadia de existir… Eu não quero isso! Eu quero-o livre! Quero dar-lhe a liberdade de poder ser dito, de poder ser falado… e de ser ouvido! Eu amo-te… Sim! E daí? O mundo não parou de rodar, o chão não se abriu para nos engolir. Nem eu me vou transformar num bicho papão, lançando-me sobre ti, forçando alguma coisa… Eu amo-te, sim! E quero dizê-lo descaradamente, porque não há razão para me envergonhar por isso. Não! Não vou ficar embaraçado por não me amares de volta! Não! Não vou correr para me atirar da ponte! Não! Não vou chorar rios de lágrimas pelo meu infortúnio no amor! Infortúnio? Infortúnio?! Eu amo! Caramba, eu amo! Que infortúnio há nisso? Ser capaz de sentir! Ser capaz de me abrir, apesar dos meus medos, das minhas inseguranças! Ser capaz de respirar fundo a vida em meu coração… porque o coração também respira! Eu amo-te, sim! E quero celebrar isso, porque amar-te é estar vivo! É ter o sangue a correr mais quente por mim. É ver o mundo mais cheio de cor… Eu amo-te, sim! E não vou fazer papel de coitadinho ou de desgraçado da vida. Não vou andar a arrastar-me atrás de ti, à espera de uma migalha tua. Não vou perder a minha dignidade, porque te amo, mas, antes, porque te amo, isso vai acrescentar à minha dignidade! Eu amo-te… simplesmente isso, amo-te! Extraordinariamente isso, amo-te! Não sou menos, nem estou diminuído por te amar. É o contrário: sou mais, sou melhor, estou mais forte. Hoje, vou além de mim, porque uma parte de mim é por ti. Compreende, por favor, que mesmo não me amando, tu fazes-me maior!... Não tenhas medo do que eu sinto por ti, que eu não terei medo do que tu não sentes por mim… Se eu vou chorar, se eu vou sofrer por não te ter? Pois que sofra, então! Desafio a dor a ser maior do que o amor que tenho por ti! Porque não é de dor que eu morrerei, mas só de amor… só de amor!

sábado, 11 de julho de 2009

Hoje, estou zangado com a vida, porque ela, a vida, não espera por mim no caminho que toma… Sinto-a fugir à minha frente despreocupada de mim, como se eu não contasse, como se não se importasse, como se houvesse outro sítio melhor para ela estar que não ao meu lado… Sinto-me atropelado pelo sentimento de abandono que ela me provoca, aturdido pelo choque que me causa a sua indiferença, soterrado pelo peso súbito de uma avalancha de solidão… E ela, a vida, não pára de ir! Quanto mais o tempo passa, mais longe ela se afasta de mim, sem sequer olhar para trás para uma, ou até meia, palavra de incentivo… Não mereço nem um olhar, uma expressão. Nem o amor que sinto por ela parece fazer diferença. Ela, a vida, vai! Fico eu… Sozinho com este sentimento de traição, sozinho com esta esperança já morta de, um dia, fazer par com ela, sozinho com a lágrima que o meu coração já chora de saudade… Foi tanto o bem que eu imaginei com ela! Foi tanta a expectativa que eu alimentei por amor ao amor que senti por ela! E foi tão cheio deste tanto que ela, a vida, me deixou… e, ao deixar-me, levou consigo o tanto que tão cheio me fazia… e já só é vazio que eu fico. Esventrado de meu sonho, despojado da ilusão, translúcido na dor… Era uma vez o meu amor!
Porque não esperas por mim? Porque tenho eu de ficar sem força para cuidar do sentimento que tu desprezas? Porque tem de ser esquecido o que merecia ser imortalizado? Porque não pára o tempo, nem se inquieta o mundo com este sofrimento? Porque se sucedem os dias indiferentes ao meu soluço abafado e à injustiça que me fazes? Porque sou eu grande o suficiente para sentir tanto, mas tão pequeno para poder tão pouco? Porque choram os meus olhos a pena a que foi condenado o meu imo? Porque se fazem convulsos os soluços que já nem seguro? Porque me sinto rebentar num grito de revolta, que me revolta ainda mais, porque só revela a minha impotência?... Porquê?
E porque, mesmo cansado, não me canso eu de manter a esperança de ainda a ver regressar?
Não quero dizer adeus!



Não quero…
Resigno-me a ser seu. Resigno-me a ser dela, a vida. Que não se fechem os olhos… que não se chame o sono para me embalar… que o corpo não caia inerte no vácuo em que se sente a alma… Se ela, a vida, me deixa, pois que não me deixe de vez. Porque a amo, ainda que me faça sofrer… Porque a amo, ainda que me dê abandono… Porque a amo, ainda que me despreze…
Quero comer à sua mesa. Não interessa o lugar! Não interessa se for o último. Não interessa que só haja meio banquinho de criança dividido com outro: eu como com o prato na mão! Porque há mesas em que já é um privilégio haver um espaço para nós. Vale a pena. E, se não for possível, eu posso sentar-me no chão, com o gato ou o cão, porque até das sobras e das migalhas eu me posso alimentar…
Se ela, a vida, foge de mim, deixem-na fugir… deixem-na ir… Que sopre o vento, que passe o tempo, que se suceda o frio ao calor e o calor ao frio… Hei-de depositar o meu olhar no horizonte à espera do seu regresso, hei-de fazer dele a fonte em que sacio a loucura e o meu excesso… Por ela, a vida, não cederei à despedida!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Se é amor o que tu queres,
Amor será o que te darei…
E se, de amor, pouco souberes,
Suficiente é o que eu sei!

Não te acanhes de o pedir,
Que eu não o irei recusar…
Porque é tamanho o meu sentir,
Que fácil me é poder te amar!

Dar-te-ei o que, em mim, houver,
Porque sede tenho de me dar
Ao teu coração de mulher…

E, logo, que nele entrar,
Faça eu o que, então, fizer,
De amor o hei-de inundar!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

My voice is silent tonight
Waiting for the sleep astray

Hoping for some brighter light

Hoping for the break of day

My voice is crying alone
The pain I feel inside

For nothing else I call my own

But this pain I’ve always cried

And cry I will until I sleep
Or ‘til the night leaves me be

(That’s a promise I tend to keep)

And cry I will until I see
The shade of light that tries to creep

Through the dark that blinds me

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Perdido… um vício me dou
Que o meu tempo entretém
Para esquecer quem sou
E poder ser outro alguém
Não sabendo por onde vou
Só não querendo ser ninguém

De uma dor que me assusta
A outra não menor m’entrego
Porque pela solidão injusta
Até de loucura me cego
E a verdade que tanto custa
Contesto desprezo e nego

Prefiro mal a dor que conforta
Mesmo cheia de grande erro
À dor que à fraude faz morta
E em tristeza me tem perro
Pois que com agrura me corta
E à esperança dá desterro…

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Escuta o meu olhar,
Porque ele fala contigo
Com cuidado e devagar,
Para ouvires o que te digo…

Porque tudo o que não falo,
Por mim, sem medo, ele o canta!
Para ser pouco o que eu calo
E muito ser o que te espanta…

Deixa-o, em ti, descansar
E ter tempo de respirar,
Para diminuir sua aflição…

Deixa-o, em paz, revelar
Os segredos que vai contar
Para se abrir o meu coração…

sexta-feira, 19 de junho de 2009

quando a vontade existe
mas não se concretiza
sente-se a alma triste
no menos que realiza

é o que deixa de ser
que então a atormenta
por se sentir a perder
o que nem sequer tenta

à fome assim se mata
a fome que em nós se gera
de ser mais ouro do que prata

e de fome se desespera
pela hora em que se desata
a vontade que antes se tivera

terça-feira, 16 de junho de 2009

Desejar amar e ser amado, viver um grande amor… é algo que a generalidade das pessoas quer para si. Normalmente, para evitar o sentimento de solidão ou para se sentir parte de algo maior, algo que traz sentido à vida. E é assim que, tantas e tantas vezes, ainda nem amamos, nem sequer estamos envolvidos com alguém, e já estamos a cair em erro!
Porquê?
Porque não nos apercebemos que estamos a instrumentalizar o amor… Queremos amar não pelo bem que isso representa em si mesmo, mas pelo interesse egoísta do que isso nos pode trazer. Queremos o amor não pelo amor, mas pelo apaziguamento da nossa consciência. Ora, o problema disto consiste em contrariar a própria natureza do amor!
Faça-se uma pergunta: para que serve o amor? Qual é o seu objectivo, afinal?
O amor é a mais alta expressão do Bem. Esse é o seu objectivo: a materialização do Bem. O amor não existe para nossa recreação pessoal, por muito que nos faça ter boas sensações… Ele existe, isso sim, para nos fazer melhores! Para tal, coloca-nos um desafio: aceita-te como és, na tua vulnerabilidade, na tua fragilidade, e, a partir disso que és, abre-te ao outro no que tiveres de melhor, aceitando o risco de veres aquilo que ofereceres ser usado contra ti mesmo… no fundo, e de outra forma: dá-te, dá-te sem reservas, de forma descomprometida e sem medo do medo que hás-de sentir!
Quando nós desejamos amar, sonhamos com o amor ou amamos, não o devemos fazer motivados por um qualquer egoísmo, porque, se o fizermos, vamos estar a usar o amor em benefício próprio, subvertendo a ordem certa das coisas… Pois não somos nós que nos devemos servir do amor, mas é ele que se deve servir de nós para fazer correr de nós o nosso melhor, todo o nosso Bem. O problema de muitas pessoas é ver o amor como um instrumento para atingir a felicidade (entenda-se, a sua felicidade particular), em vez de perceber que, na verdade, somos nós o seu instrumento! Por isso mesmo, ele é um desafio constante, que pede para nos esquecermos de nós mesmos para que ele tenha oportunidade de existir através de nós. Ou seja, amar é uma inquietude… uma inquietude que não se coíbe, apesar das nossas inseguranças, dos nossos medos, dos nossos fantasmas pessoais, de se manifestar, de nos tentar conduzir, de nos desafiar.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Desabafo corrido

Faço da vida
Um sonho perdido
Loucura dorida
De sono sofrido

Faço de mim
Esboço cansado
Esquecido do fim
Que me é destinado

Vivo vivendo
Sem saber viver
A alma doendo
O corpo a morrer

Sem rei nem roque
Sem eira nem beira
Ninguém que me toque
Ninguém que me queira

Da fé m’esqueço
Por me entreter
A pôr do avesso
O que é viver

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Fecho os olhos para ver,
Se ainda sou inteiro,
Porque a pressa de viver
Faz meu passo tão ligeiro,
Que m’esqueço até de ser
Quem sou para quem m’abeiro…

Corro, corro… já sem parar,
Porque tempo é dinheiro…
Nem que tenha falta de ar
Ou ataque de mau cheiro!
(Assim me hei-de recrear
Em não ser rio, só ribeiro…)

Vivo só pela metade
O que a vida pode dar,
Pois não me dou liberdade
De bater asas e voar,
Sem ter medo, nem saudade
Do que resisto a largar…

Quero mais estar do que ser!
Mais casca do que caroço…
Por, distinguir, eu não saber,
Um quadro do seu esboço!
(Acabando por me perder
Num estéril alvoroço…)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A história de um segundo

Fiquei preso naquele segundo
Em que me cruzei com o teu olhar,
Em que entrei em teu doce mundo,
E o meu abrandou até parar…

Foi sem luta que se deu,
O meu coração, por derrotado,
Que se entregou e se fez teu,
Sem eu ser tido, nem achado!

Já não tenho para dar
O que, antes, em mim, batia…
Saiu, saindo sem avisar,
Sem dizer que, de mim, saía.

Agora é teu o seu bater,
Preso ao segundo daquele dia
Em que parou o mundo de correr
E, teu cativo, eu me fazia…

Passe o tempo que passar,
Inda estou naquele instante
Em que me prendi ao teu olhar
E meu senso se fez errante!

Já não consigo resistir
À vontade de te ver,
De memorizar o teu sorrir
E, no seu brilho, me derreter…

Porque é teu o meu melhor,
Que se quer dar e, em ti, perder,
Para, por ti, se sentir maior
E, ao egoísmo, assim, vencer!

Foi sem luta que se deu…
Que se entregou e se fez teu…
Agora é teu o seu bater…
Que se quer dar e, em ti, perder…

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dizem as estatísticas que, nos dias que correm, cerca de metade dos casamentos termina em divórcio…
Das duas, uma: ou são pessoas que não estavam preparadas para a vida em comum, vida de casado, ou são pessoas que, afinal, descobriram que não se conheciam tão bem quanto julgavam…
Um outro dado, ainda segundo as estatísticas, é o de que se casa cada vez mais tarde. Se, umas décadas atrás, o princípio da vida em comum se dava por volta dos vinte anos, já hoje, é mais perto dos trinta que isso acontece.
Cruzemos, agora, as duas coisas. As pessoas estão a casar mais tarde, o que, supostamente, proporcionaria maiores condições de maturidade a cada um dos cônjuges, por um lado, e, por outro, mais tempo para se poderem conhecer melhor, mas, ainda assim, divorciam-se mais! Alguma coisa vai mal no reino da Dinamarca… ou, para ser mais rigoroso, algo está podre…
Hoje, as pessoas têm melhores condições para avaliar bem uma das mais importantes decisões da sua vida, mas nem por isso parecem ter grande sucesso. Pode pensar-se que haverá inconsciência, haverá falta de comprometimento verdadeiro, haverá ligeireza… Pode pensar-se em se culpar a imaturidade, o egoísmo, o hedonismo em que nos deixamos envolver enquanto sociedade… Pode acusar-se a nossa época de, aparentemente, estar a formar adultos cada vez mais infantilizados… Tudo isto pode servir de justificação razoável. Há um ponto, porém, que nem sempre é facilmente reconhecido e que, muitas vezes, passa ao lado das reflexões mais comuns. Um erro em que cada vez mais se cai e que nem sempre é devidamente valorado: aprendemos a amar e amamos a outra pessoa mais pelo que ela aparenta corresponder aos nossos padrões de exigência e de expectativa, mas aprendemos a amar e amamos menos pela relação que estabelecemos com a outra pessoa. Ou seja, valorizamos mais alguém por vir ao encontro de um ideal nosso e menos a relação que efectivamente temos com esse alguém.
Todos temos um ideal de parceira ou parceiro. Coisas como (e sem qualquer ordem especial) ser bem sucedido, ter boa reputação, ser famoso, ter dinheiro ou posses, ser bonito ou atraente, ter um bom coração, ser bem-humorado, enfim… todas estas coisas, e outras mais, vão compondo o rascunho do que gostaríamos de encontrar em alguém; para uns, umas coisas mais do que outras, para outros, umas coisas primeiro do que outras. O importante é que temos uma ideia de como ela deve ser. Ora, isso condiciona a maneira de encarar a realidade à nossa volta, de como nos abrimos a ela, e se nos abrimos ou não à eventualidade dos outros e do acaso… Vivemos com a ideia do príncipe e da princesa encantados. Queremos e procuramos quem se ajuste à figura da pessoa que vamos idealizando, como se andássemos, com um sapato na mão, à procura do pé que há-de encaixar nele na perfeição. É engraçado como, muitas vezes, a forma como avaliamos os outros tende a roçar o nível de uma entrevista de emprego em que quase falta perguntar descaradamente: então, diz lá porque hei-de ficar contigo… o que tens para me oferecer, em que é que és especial?
E quando surge um(a) candidato/a prometedor(a), precipitamo-nos avidamente sobre ele/a sem a reflexão devida. Atiramos as culpas para o entusiasmo da paixão, mas, na verdade, agimos como verdadeiros predadores que, uma vez encontrada a presa certa, partem obstinadamente no seu encalço até a dominarem e satisfazerem o seu apetite.
Tudo, porque nos iludimos ao pensar que, com a pessoa que idealizamos para nós, havemos de ser paradisiacamente felizes. É a síndrome do príncipe perfeito de que falava antes… Mas, como alguém com graça já disse, nem mesmo aqui a tradição é o que era: antigamente, beijavam-se sapos e eles transformavam-se em príncipes encantados; hoje, há príncipes encantados que, ao primeiro beijo, se transformam em sapos…
Preocupamo-nos excessivamente com as características da outra pessoa e com o que isso diz de nós mesmos, desde o nosso bom gosto até um certo sentido de sucesso e realização pessoais. Já se reparou como é costume afirmar que determinada pessoa casou bem ou casou mal de acordo com a profissão do outro? Se for com um(a) médico/a, por exemplo, casou bem, mas se for com um(a) operário/a fabril já não casou tão bem (podia ter arranjado melhor!) … Não interessa que o/a dito/a médico/a seja o/a mais incompetente do mundo que ande a pôr em risco a vida das pessoas ou mesmo a matá-las! É médico!
Preocupamo-nos demasiado com rótulos e com aparências… Negligenciamos o que é essencial: a forma como nos relacionamos com os outros!
De que me vale, a mim que sou homem, casar com a mulher mais bonita, com a mais rica, a mais cobiçada, a mais inteligente, a mais divertida… com a mais perfeita do mundo inteiro, se, com ela, eu não conseguir ter uma relação de verdade, de respeito, de amor, de confiança, de diálogo, de entrega mútua… de cumplicidade? Nunca nos esqueçamos que a ideia de termos alguém por companheira pode ser bem mais interessante do que, efectivamente, a termos na realidade. Há fantasias que, quando realizadas, se revelam enormes desilusões.
É claro que devemos amar os outros por aquilo que são… Mas também os devemos amar por aquilo que temos com eles! Não é por eu casar com uma psicóloga que vai haver necessariamente mais diálogo e comunicação na minha relação com ela, nem é por eu casar com uma surda que o diálogo e a comunicação vão estar ausentes… Não façamos o nosso desejo centrar-se na expectativa de vir a encontrar alguém que seja de uma determinada forma, de acordo com os nossos gostos pessoais, mas, antes, desejemos, isso sim, uma relação de tal forma especial que consigamos sentir na pele que a soma das duas partes envolvidas faz nascer algo maior do que ambos. A diferença está entre esperar por um género de salvador que poderá ou não aparecer num dia de nevoeiro, ou trabalhar cada relação que se tenha com cuidado e atenção suficientes para perceber quando alguém nos faz sentir e nos faz ser especiais…

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Se adeus tiver de te dizer,
É com tristeza que o faço…
Mas respeito o teu querer
Sem olhar ao embaraço.

Adeus!... Te digo, então!
Fica bem e sê contente…

Que eu fico na solidão
Que me deste, de repente.

Nada mais há por dizer…
Cai o pano, cai o mito,
Cai a ilusão em meu ser.

É vazio o que ora fito:
O amor sem fim que eu vi nascer,
Afinal se fez amor finito…

segunda-feira, 20 de abril de 2009

De ilusão é feito o sonho
Que me consome durante o dia…
Tanta… que muito me envergonho,
Por ser tão grande minha utopia!

Mas pode ser de outra maneira
Composto o sonho que me guia?
Como, então, não perder inteira
A graça que nele se acharia?

De ilusão é feito o sonho,
Porque, de ilusão, se faz magia!
Que, do pouco que eu nele ponho,
Se alimenta minha fantasia…

(Mas não se deixe muito dominar
Quem, num sonho, tanto se inebria!
Porque tão longe nos há-de levar,
Que, em pouco tempo, ele vicia…)

sábado, 18 de abril de 2009

Como se deve lidar com o amor que alguém nos dá?
Há uma maneira certa e uma maneira errada…
A maneira errada é pensar ou supor que se tem um poder sobre a outra pessoa. Depressa nos tornamos presunçosos e arrogantes, se pensarmos assim. Não só damos como adquirido quer o sentimento da outra pessoa, quer a outra pessoa, ela mesma, na sua presença, mas também esticamos o limite do que é aceitável para o nosso próprio comportamento. Permitimo-nos ser mais rudes, mais crus, mais bruscos, mais desagradáveis, mais negligentes, porque sentimos que a outra pessoa há-de estar impotente para fazer alguma coisa de relevante, ou com impacto verdadeiramente forte, na relação que se tem. Não é por alguém nos dar uma má resposta, algo que não gostamos de ouvir, por exemplo, que vamos pôr em causa o nosso sentimento ou a relação que se estabeleceu… isso é verdade! Mas o perigo está em deixar que essa má resposta se multiplique por várias ocasiões, e que, daí, se entre numa rotina destrutiva que acaba corroendo a relação por dentro.
A maneira certa, porém, é apercebermo-nos que, o amor que alguém nos dá, é, sobretudo, um privilégio: o privilégio de podermos viver duas vezes, o privilégio de termos duas moradas. De vivermos duas vezes, por nós mesmos e através da outra pessoa. De termos duas moradas, o nosso coração e o coração da outra pessoa. Como é um privilégio, como o sentimos como um privilégio, o primeiro instinto é o da preservação, de lutarmos por o manter, de estarmos à altura de o receber, de sermos dignos dele. Quer-se preservá-lo! Em vez da arrogância, é a humildade que vence. Em vez da negligência ou presunção de tudo estar alcançado, forma-se a responsabilidade por um desafio que se renova diariamente.
É bom… sentirmos que alguém nos ama! Mas há algo melhor do que isso… que é o de percebermos que esse sentimento é uma influência positiva na vida da outra pessoa, dela mesma que nos ama, que lhe faz bem, que a faz ser mais forte, que a faz ser melhor! É fácil usarmos o amor que alguém nos tem em benefício próprio… É fácil sugar de outrem o seu melhor, esvaziando-o, secando-o, atrofiando-o… No entanto, o mais compensador é tratar esse amor com respeito e dignidade tais que dê de volta, a quem nos ama, a certeza de uma estima que o valoriza, preza e zela. O mais compensador é que, o amor que alguém sente por nós, acabe por lhe ser motivo e razão para mais amar, para melhor amar.
No fundo, a diferença está em servirmo-nos dos sentimentos dos outros ou edificarmos os outros através dos seus próprios sentimentos… A diferença está em inferiorizarmos ou menorizarmos os outros por causa do que sentem por nós ou em deixarmos que esse sentimento sirva para darmos as mãos e caminharmos lado a lado, como iguais, com eles. A escolha está nas nossas mãos.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Tenho algo por dizer, que eu próprio ainda não sei o que é… Só o sinto. Por breves segundos, faz sentido o inexplicável dentro de mim… Uma sensação de paz invade-me, vinda de lugar incerto, como se tivesse descoberto o que estava oculto e a minha quimera, estranhamente cega, chegasse a um fim. Uma faísca de inteligibilidade ininteligível. Um instinto que reage ao vislumbre dos limites da sombra invisível que me obscurece o pensamento. Um relâmpago pela reunião entre o que não sabia que procurava e a procura que me inquietava. Um efémero reflexo de harmonia intraduzível graças à sua intangibilidade. Um lampejo de revelação numa noite sem estrelas, que mal se liberta, me encandeia a percepção, deixando-me na frustração de nada ver no escuro e de cego ficar com a sua luz… Percebo que, afinal, se pode perder o que nunca se chegou a ter! Fogachos de expectativa… Encontros adiados de pedaços de mim desencontrados…

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Ressuscitou!
Ouviu-se no dia
em que a Vida se mostrou
mais forte que a morte mais fria.
Ressuscitou!
Ecoa hoje ainda
e do Alto se renovou
esse Amor que, amando, não finda!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Não ata, nem desata
O nó a que me prendo,
Pois d’ilusão se trata
O nó que vou tecendo…

É mais cara que barata
A sombra em que me lanço,
Por levar de mim – ingrata! –
Minha luz e meu descanso…

Trabalhos mil, eu me dou,
Por, de loucura, ser feito
O caminho em que vou…

Com trabalhos mil me deito,
Só p’ra esquecer que sou
O que bate no meu peito…

sábado, 28 de março de 2009

Algumas vezes, ao longo da vida, sentimos uma cisão dentro de nós. A cabeça e o coração parecem seguir caminhos diferentes: a primeira puxa para um lado e o segundo puxa para o outro. Em princípio, um deles há-de estar certo e um deles há-de estar errado… Surge, então, a eterna questão: o que fazer?
Se aquilo que estiver em causa for algo que não é do foro íntimo, que não faz parte do núcleo essencial de cada pessoa, da esfera mais privada do ser humano, é bem provável que quem ganhe essa disputa interna seja a cabeça. Por exemplo, o nosso coração até pode incitar-nos a dizer umas quantas coisas, e algumas bem desagradáveis, ao nosso patrão, mas é quase certo que a cabeça vai levar-nos a engolir toda essa vontade, porque o dinheiro que pinga ao final do mês, ainda que pouco, é mais do que necessário para pagar as contas de casa. A necessidade fala mais alto, impõe a racionalidade! Ou quando os países levam a cabo negociações e realizam cimeiras, logo se esquecem rapidamente de questões como os direitos humanos, a democracia e a liberdade de expressão, que passam para um plano mais do que secundário para não atrapalharem oportunidades de negócio. Há alturas em que todos nós, quando queremos, sabemos ouvir a nossa cabeça e sabemos dizer ao coração para ficar quieto. Não quer dizer que seja a coisa certa, mas fazemos. (Ainda que haja reis que sejam capazes de, no tempo oportuno, levantar a voz para perguntar firme por qué no te callas?, honra lhes seja feita…)
No entanto, se aquilo que estiver em causa for algo do foro íntimo, algo da essência, do âmago do nosso ser, já é bem provável que o vencedor acabe por ser o coração. Por exemplo, no amor, não interessa se a cabeça nos diz que uma determinada pessoa é a certa para nós por mil e uma razões… O sentimento que se tem por outra, mesmo que seja completamente errada, vai bastar para as derrubar a todas! Nestes casos, não é que a racionalidade se perca, mas, em vez de se usar uma racionalidade lógica, quase científica (em que, a partir de determinadas premissas, se retira uma conclusão que se aceita e aplica), faz-se uso, isso sim, de uma racionalidade emocional! Sacrifica-se o lógico em nome de uma vontade interior maior, seja essa vontade motivada pela maior das tolices ou pelo maior dos brilhantismos… Veja-se o caso de um rei que aceita perder o trono para casar com uma plebeia. Veja-se o caso de alguém que aceita viver em recolhimento para se dedicar a Deus (ou o inverso, de alguém que deixa a vida religiosa para viver uma mais mundana). Nessas alturas, guia-nos igualmente um sentido de necessidade, mas já não de subsistência ou de sobrevivência. É uma necessidade de identidade… de ser como se é!
Ainda assim, mesmo que as coisas se passem normalmente desta forma, a pergunta mantém-se: o que fazer quando a cabeça e o coração não se entendem?
Ora, a resposta a esta pergunta vai depender daquilo que queremos para a nossa vida, porque nem um, nem outro hão-de estar sempre certos… Por isso, isto não é uma questão de termos a cabeça versus o coração. Como se um devesse ter supremacia sobre o outro, como se um devesse vassalagem ao outro. Isto é uma questão de valores versus interesses. Os valores simbolizarão o que é certo, já os interesses simbolizarão os nossos egoísmos… Como num tribunal temos advogados representando as partes em conflito, também em nós, vamos ter ora a cabeça, ora o coração representando ora valores, ora interesses. Cabe-nos, depois, tomar uma decisão e escolher ou o que é certo ou o que o nosso egoísmo manda, independentemente de, no momento, isso ser defendido pelo nosso coração ou pela nossa cabeça. Esqueçamos de onde vêm os impulsos para agir, de onde vêm os motivos, e concentremo-nos em perceber somente se são bons ou maus impulsos, se são bons ou maus motivos.
E é aqui que tudo se complica! Distinguir o que é bom do que é mau! E mesmo que se consiga fazer essa distinção, ainda é preciso saber até que ponto estamos dispostos ou preparados, nesse momento específico da nossa vida, a aceitar esse bem ou esse mal!
Por vezes, entregamo-nos ao nosso egoísmo, tão difícil é evitá-lo, mas, depois, a voz da nossa consciência ganha uma força inelutável, e não podemos senão fazer o que ela nos pede, remediando a situação em que nos metemos… Outras vezes, tentamos fazer o certo, lutamos, resistimos, debatemo-nos, mas em vão, já que a fraqueza de espírito se vai instalando…
Nessa luta interior, a confusão chega a ser tanta que perdemos de vista inclusivamente que há um certo e que há um egoísmo em confronto. É como se tudo fosse certo, porque mesmo o nosso egoísmo parece perder os seus contornos egoísticos. Baralha-se tudo, porque tornamos a fronteira entre um e outro bem mais ténue: passa a existir um certo, e, o certo para nós… Relativizamos as coisas pelo envolvimento em que caímos. Como se estivéssemos, inconscientemente, a ajustar a realidade que nos interessa ter (a torná-la mais aceitável) aos valores que eventualmente a possam desaprovar, para evitarmos sentimentos de culpa.
O ideal seria escolhermos os valores sobre os interesses, preferirmos o certo ao nosso egoísmo, mas, sem hipocrisias, isso não é assim tão fácil… Fazê-lo, consegui-lo, significaria deixar ficar para trás uma parte de nós que, muitas vezes, não queremos largar. Carregamos os nossos ombros com o peso do que nos interessa e não queremos abdicar disso com medo de se estar a desperdiçar algo de precioso. No fundo, temos medo de fazer o certo, porque ele, as mais das vezes, faz-nos abdicar das nossas zonas de conforto e de segurança… O certo faz-nos sentir órfãos de nós mesmos! E receamos isso, pois ficamos presos à ideia, ao pânico da orfandade, em vez de percebermos, que, no momento em que nos fizermos órfãos de nós, o certo, ele próprio, nos há-de adoptar…
Por isso mesmo, abdicar do nosso egoísmo é, sobretudo, um acto de fé! É abraçarmos a aventura de nos fazermos ao largo… Duc in altum!

(Em conexão com o texto de 28 de Agosto de 2008…)

terça-feira, 24 de março de 2009

Há dias em que a folha de papel em branco parece infinitamente maior do que nós. Tão pequenos nos sentimos… Tão vazios! Escondemo-nos, então, nas coisas do quotidiano, nas pequenas decisões do dia-a-dia. Cheios de pouco, enchemo-nos do nada que nos vai ocupando. Por vezes até, apressamos o ritmo de tudo, pomos o pé no acelerador… ou para não termos tempo para pensar de todo ou para nos cansarmos propositadamente de forma a podermo-nos queixar disto ou daquilo, de forma a cairmos de exaustão como frutos a cair de maduros.
Há dias em que sentimos medo da folha de papel em branco. E se ela for o meu melhor espelho? E se eu estiver assim: em branco, vazio? O que é que isso diz de mim? É que o vazio, mais do que nada dizer, qualifica-nos de insípidos, o vazio levanta questões, incomoda, traz desconforto. Como um currículo tem de estar enfeitado com verdades e mentiras, também eu tenho de me enfeitar… e se não posso usar diamantes, ouro ou pedras preciosas, espera-se de mim que disfarce isso com imitações. Com imitações, bugigangas, pechisbeques, quinquilharias e, sobretudo, um sorriso descarado!
Mas e se, ainda assim, a folha de papel, mesmo rabiscada, continuar em branco? O medo que se sentia, vai agora ser sentido também pela folha rabiscada, porque alguém pode ler nas entrelinhas e perceber que aquilo é nada, alguém pode olhar para os meus enfeites e perceber que são imitações, alguém pode pressentir no meu sorriso o desconforto que me causa a sua falsidade… Já não se teme apenas o juízo que se faça do pouco que se tem, mas passa-se a temer que se desmascare a nossa tentativa de encobrimento da realidade. Teme-se a verdade por parecer sem valor, e teme-se a descoberta da mentira, fabricada para encobrir essa verdade…
E, entretanto, a folha de papel em branco continua à nossa espera… À nossa espera e, mais do que isso, à espera de nós vertidos nela. É que ela não está interessada em ser preenchida só pelo muito ou pelo espectacular! O seu interesse está em ser preenchida pela nossa verdade, pelo nosso coração, pela nossa nudez. Ela sente-se honrada em vestir e ostentar, não as palavras da nossa vaidade, mas as da simplicidade do nosso ser. Como se isso fosse suficiente… Como se isso já valesse a pena… Como se nos reconhecesse valor!
Então, a folha de papel em branco abre-se-nos de par em par para nos abraçar, para abraçar o nosso ser. De repente, o pequeno que sou, se agiganta, porque é importante… Derramo-me no papel como um rio no mar! Evaporo no seu branco como água no ar! Espalho-me por entre linhas desalinhadas como as estrelas a sua luz pelo espaço… Faço dela a minha casa… Faço dela o meu lar!
Há dias em que só quero uma folha de papel em branco para me deitar.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Escrevo à beira-mar da minha solidão… Onde se sente no coração o fim do mundo e o início do infinito, onde o meu presente se cruza com o nosso desfecho e o nosso princípio… Escrevo desta areia fina que me cobre o pensamento, deste vento forte que me zumbe nas palavras, deste cheiro a maresia que me enche de vertigens… Onde um azul se une ao outro, onde a água se une à terra, onde a espuma das ondas se une ao choque da imensidão… Escrevo onde o sol se há-de esconder, onde os seus raios hão-de dançar em reflexo, onde da minha dor me hei-de esquecer… Aqui, onde ser pequeno acalma e sossega, aqui, onde se vê melhor por se ver tão longe, aqui, onde o corpo repousa e a alma navega…
Derrete-se-me o espírito pelo magnetismo do gigante adormecido. Corro para ele, sinto-me rio… Diluo-me nele, tornando-me parte de algo maior. Descubro a reconfortante e velha conhecida sensação de paz que se tem quando se chega a casa e se pode, finalmente, descansar… Não há nada a dizer! Nada a pensar! O tempo perdeu a sua urgência e eu perdi-me no mar…

quinta-feira, 5 de março de 2009

Amar e não ser amado
É calor que, de frio, mata…
Brilho de lume apagado,
Luz de escuridão ingrata!

Terra fértil de seco fruto…
Ventre grávido de tanto e nada!
Parto dorido que traz luto…
Parte de nós, de ar, privada…

Quem não sentiu já
Um amor sem ser amado
E a dor que ele nos dá?

Feliz de ti, se foste poupado,
De saber o que será
Esse punhal, em ti, cravado!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Caiu-te uma lágrima no regaço,
De pesada dor, carregada…
Por ela, sentiste embaraço…
Por mim, te sentiste vexada!

Não te aflija o que te aflige,
Que, de aflição, já estou eu cheio!
Não penses que, de ti, se exige
O decoro que se faz alheio…

Deixa o mal que te invade,
Avassalador e sem piedade,
Transbordar teu doce seio…

Que não seja eu que te enfade
Por, com arrojo e temeridade,
Achar belo o que tu vês feio!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

No meu desespero, desespero
Por, de impaciência, me encher
Ao tardar a chegar ao que quero,
Ao tardar no limbo a viver…

Chega de redenção adiada!
Chega de tanto tempo perder!
Escolha-se enfrentar a espada
A, contra a parede, ceder…

Vale mais a luta aguerrida,
Que nos pode custar a vida
Ou de trabalhos moer!

Vale mais do que a descida,
Lenta, constante, rendida,
Nesse abismo que é não-ser…

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Estou
Agora pensando em você
E sou
Um louco perdido de amor
O porquê
Me escapa e foge, me ilude
Sem dó ele só me confunde
Mas enche meu mundo de cor
Não sei
Como viver mais sem você
Fiquei
Ferido de morte num olhar
Quem me vê
Tem pena do meu pouco tino
Que de homem me faz um menino
Só por me render a te amar
Vencido
Tudo eu te dou do que tenho
Duvido
Que haja quem possa dar mais
Desenho
Teu rosto no meu coração
A ouro, diamante e paixão
Para dele não sair jamais

(Nota: ler com sotaque brasileiro!)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Pobre do meu coração,
Que não descansa um instante,
Que trabalha com sofreguidão
Por dar vida ao meu semblante…

Pobre dele que se faz escravo
Para eu poder viver…
Que me dá, discreto e bravo,
O vigor do seu bater!

Mas cativo também me faço
Do seu forte alvoroço,
Que me comanda o passo
Como se ainda fosse um moço…

Porque é ordem o seu desejo,
Que se impõe ao meu pensar…
Ditador que não tem pejo
Em, minha paz, me roubar!

Escravo ele, cativo eu…
Prisioneiros e senhores!
Um desassossego que é meu,
Que, cheio está, de fortes dores…

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Uma pomba levou-me até ti…
Virava a esquina, no meu passo costumeiro, com a mente desocupada, deixando o vento, que se fazia sentir frio no meu rosto, passear-se solto também dentro de mim, varrendo as ideias para o futuro que as traria de regresso… Como folhas secas de árvore num remoinho ocasional. No chão, apareceu ela, a pomba, ostentando uma pose quase de desafio, com as suas patas percorrendo a meias o meu caminho, preguiçosa da vida, com um olho sempre atento ao ritmo do meu passo. Foram uns metros ainda de resistência ao seu instinto de debandar, mas só foram uns metros… Logo bateu as asas e cavou, entre nós, uma distância em extensão e altitude, para longe do meu alcance. E foi aí que, ao segui-la somente com o olhar, nessa descolagem improvisada, ela te trouxe à minha memória! Ao fundo da rua, passou, em sua trajectória, bem perto de alguém com a tua figura que vinha em sentido contrário, de mão dada talvez com o amor, talvez com a paixão, talvez até somente com um deleite de ocasião… Não eras tu. Mas foste tu que me surgiste. Nas asas de uma pomba, voou o meu pensamento sem saber que se iria lançar em teus braços distantes…
Nunca sabemos como acabam as viagens que começamos. Mesmo as viagens involuntárias… sobretudo as involuntárias! Como esta: uma viagem ao passado não planeada. Perguntei-me onde estarias. Perguntei-me se a ti também te aconteceria isto, de me encontrares por acaso ao virar de uma esquina, ainda que não fosse eu. Perguntei-me se te lembrarias de mim de todo, e que lembrança guardarias. Um instinto misto de incómodo e de tristeza atacou-me, de súbito, à suspeita derrotista de já nem saberes quem eu era… Tive dúvidas sobre a razão desse incómodo. Pensei.
Talvez que eu quisesse viver para além de mim e dos meus limites. Sentir-me-ia maior do que o que sou, se vivesse nas tuas recordações. Não se pergunte a razão… Não gostaria de ter de confessar a tacanhez da minha vaidade. Julgo não ser o único, porém. Porque aspira o ser humano a ser mais do que é? Porque se reconforta a alma com a ideia de ter multidões a assistir ao enterro do corpo, mas logo se transtorna o espírito com a ideia contrária de por lá não haver ninguém? Porque não se encontra a paz na simplicidade de ser? É assim tão pouco… o existir? Será assim tão vulgar?
Porque tenho de ser mais para, só então, me poder conciliar com o que sou?
Nas asas de uma pomba, o meu pensamento se elevou…

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

pobre é o meu pensamento
que se quer perder no nada
que não tem mais o atrevimento
de passar o sono à espada
e de, livre, se soltar ao vento
para fugir ao que lhe enfada

preso anda sem preso estar
porque se faz cativo sem o ser
elegendo o vazio por seu par
para com ele se adormecer
e, do vento, não mais se lembrar
e, de ser livre, se esquecer

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Queres muito amar alguém,
Mas tens medo desse amar…
Pois não te queres dar a quem
De ti não saiba bem cuidar!

Queres muito o infinito
Que um amor sem fim suscita;
Mas em ti há sempre o grito
Do medo que logo s’agita…

Amar assim é despir a alma!
Arriscar tudo de uma vez só!
Loucura que pouco te acalma
E, no teu íntimo, forma um nó…

Ai… desesperas por não saber,
Se, chegado o tal momento,
Para, este vil medo, vencer,
Encontrarás em ti alento!

Queres muito amar alguém,
Mas tens medo desse amar,
Já que não sabes viver sem,
O segredo que és, guardar…

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Afogo a minha voz no silêncio em que mergulho
Definhando a sós enquanto me consolo com entulho
Porque nem sempre o sorriso aparece com facilidade
E por vezes o juízo embebeda-se na mediocridade

Espero pela ressaca ainda grogue pela tontaria
Que sem vergonha me ataca me consome e arrelia
Aquela que eu deixo tomar de mim conta
Com tanto desleixo que até ao impudico afronta

Anda homem bebe… apaga de ti essa tormenta
Anda que ninguém percebe como ela passa lenta
Ela a dor que não se vê pelo desespero de não se ter
Sem penitência a mercê ou sem humildade o poder

Anda homem esquece a verdade que te prende
Pois se ela te aborrece logo a mentira te entende
Te acolhe acalenta e embala para que possas dormir
Sossegado numa vala pronta para de terra te cobrir

sábado, 24 de janeiro de 2009

Há uma expressão que, aqui e ali, parece surgir, frequentemente, no meio de uma conversa, entre amigos, num café, num transporte público, andando na rua: “Oh, pá! Que queres? Não sou perfeito!...”
Quando ouço isto de alguém que eu sei que não acredita em Deus, não me surpreendo, nem me incomodo com o comentário. Quando, porém, o ouço de quem se diz crente, confesso que me espanto um pouco…
Siga-se o meu raciocínio! Diz-se imperfeito, algo que está ou é inacabado, incompleto, malfeito… Ora, se se crê em Deus, se se crê que Deus é o Criador, que é o Ser Perfeito em essência, Omnipotente, Omnisciente, Incapaz de errar e em Quem é impossível existir sim e não (contradição ou mutabilidade), então como sustentar que Ele foi capaz de criar uma obra imperfeita? Dizer-se isso do homem, é, implicitamente, reconhecer que, algures no momento da criação, Deus errou ou fez algo de mal. Mas como, se Deus é Perfeito? Indirectamente, ao afirmar-se a imperfeição do homem, está a negar-se a Deus, porque essa é a consequência última dessa afirmação. Se Deus é Perfeito, então nada que Ele faça pode ser imperfeito; mas se, ainda assim, fez o homem imperfeito, então também Deus não pode ser perfeito, então Deus não pode ser Deus…
Logo, das duas, uma: ou mantemos essa ideia sobre o homem (com a consequente negação de Deus) ou teremos de chegar à conclusão arrojada de que o homem, afinal, não é imperfeito!...
No entanto, de imediato, uma outra contradição parece surgir! Se Deus é o único Ser Perfeito (e isso mesmo, essa mesma qualidade faz Dele Deus), então como advogar que o homem também o é? Seria o mesmo que elevar o homem à qualidade de Deus… e, ao fazê-lo, seria o mesmo que negar a Deus!
A meu ver, a forma de ultrapassar este aparente impasse passa por reconhecer a existência de duas ordens de perfeição: a Perfeição Suprema, Plena ou Originária, por um lado, e, por outro, a perfeição derivada!
O que pode ser considerado Perfeito em comparação com Deus? A resposta deve surgir sem dificuldades: nada… Nada o pode ser, porque Ele é plenamente Perfeito! Ora, se se diz que o homem é imperfeito (porque se o está a pôr em confronto com Deus), não deveria ser necessário sequer fazê-lo, porque bastaria dizer tão-só que o homem é homem (e não Deus). Se Deus é o Ser Perfeito, e se o homem não é Deus, então ele terá necessariamente de ser qualquer coisa diferente da Perfeição. Não é necessário chamar imperfeita à natureza humana, basta dizer que ela é isso mesmo: humana!... E não divina!
Deve perceber-se que, face a Deus, tudo será imperfeito, tudo ficará a perder… Desde logo, porque tudo Lhe deve a existência, nada é por si mesmo a não ser Deus. Mas, partir disto, para se concluir que Ele andou a criar um conjunto de coisas imperfeitas, é um erro monumental! E é aqui que entra em acção o conceito de perfeição derivada: o de cada coisa servir integralmente os fins para os quais foi criada. O mar, o céu, a luz são perfeitos! Não plenamente perfeitos, claro, mas são-no de forma derivada, porque servem os fins para os quais foram criados.
Para quem tem uma identidade judaico-cristã, como eu tenho, não há contra-senso entre dois momentos das Sagradas Escrituras: um, é logo no início, no Génesis, onde se pode ler que Deus olhava para a obra criada e reconhecia que ela era boa; o outro, passa-se com Jesus. Alguém que não o reconhecia como Filho de Deus, tratou-o por “Bom Mestre”, ao que Jesus retorquiu, para o fazer pensar nessa sua contradição, perguntando (se não o via como Filho de Deus, subentendido) como o chamava de “bom” se só Deus era bom… De facto, então, podemos perguntar: se só Deus é bom, como entender que, nos Génesis, se afirme que Ele olhava para a obra feita e reconhecia que era boa?
Mais uma vez, a resposta encontra-se no reconhecimento dos dois níveis supra mencionados: o plano Supremo, Pleno ou Originário, e o plano derivado. Só Deus é Bom, porque em Deus está todo o Bem! Mas Deus reconhecia que as obras da sua criação eram boas, porque elas serviam os fins para os quais foram criadas… ou seja, eram boas no plano derivado!
Por tudo isto, não se diga que o homem é imperfeito! A quem o disser, eu contraponho: o homem é perfeito! O homem serve os fins para os quais foi criado: para ser Amigo de Deus e, consequentemente, para amar! O homem foi criado santo e destinava-se (destina-se!) à santidade! Os exemplos de pessoas que seguiram ou seguem esse caminho, no passado, bem como no presente, são provas de que nós servimos para esse fim! Eles fazem prova de que, se nos abrirmos a esse desafio, é caminho que conseguimos percorrer! Temos em nós os instrumentos para isso! Muitas vezes, recusamo-nos, isso sim, a fazer uso deles, ou a fazê-lo da maneira correcta… outras vezes, não sabemos mesmo fazer melhor uso! E isto remete-nos já não para o ser, a essência do homem, mas para o sendo, para o estar, para a acção. É aqui que se pode encontrar uma expressão para o homem mais adequada do que imperfeição. Ao invés dela, prefira-se outra: falibilidade! O homem é falível, apenas e só…
E esta expressão é tanto melhor quanto mais nos apercebermos que a imperfeição nos pode prender num fatalismo de indiferença (para quê tentar mais e melhor, se não sou perfeito?), enquanto a falibilidade impõe-nos, ainda assim, a necessidade de respondermos pelos nossos actos (o facto de ter limitações e de poder falhar, não me exime totalmente das minhas responsabilidades!).
Ser falível é sinónimo de poder cair, sim! Mas ser falível já não serve de desculpa para não nos reerguermos…

(Para quem não crê em Deus, imperfeito ou falível ou outra coisa qualquer… há-de tudo dar ao mesmo. Ser-lhes-á irrelevante, porque não interfere, nem colide com aquilo em que acreditam – ou, neste caso, com o que não acreditam. Eu compreendo! Compreendam, também, porém, que, para mim, que creio, já não é assim tão indiferente…)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Amar, por vezes, é assunto complicado. Mas ainda mais o é, em certas ocasiões, o deixar de amar…
Quando se ama alguém, não se ama só essa pessoa, quem quer que ela seja, mas também se aprende a amar o próprio amor que se sente. Esse sentimento, no seu início ainda mal definido, que surge sem ser convidado e que nos toma por refúgio, escondendo-se em nosso seio, procurando o calor da nossa intimidade secreta, crescendo e transformando-se com o tempo, usando a nossa timidez e recato até poder erguer-se por si mesmo, até o sentirmos forte em comunhão com cada batida do nosso coração, chega a ganhar por face os contornos de um filho que por fim reconhecemos e que, mais do que ser nosso, faz de nós parte. Um sentimento que vem trazer uma cor nova ao mundo à nossa volta, que é capaz de colocar um sorriso – algo idiota, mas inexplicavelmente incontrolável – em nossos lábios, que vem preencher uma parte de nós desertificada! Uma flor, cuja semente não se sabe bem como foi em nós plantada, que fez do coração solo fértil para germinar, frágil e hesitante, sem defesas senão o apelo à nossa própria compaixão, mas que cresceu até florir e desabrochar, espalhando por nosso mundo clandestino um cheiro de intensidade, de vida, de primavera… Como não amar este amor?... Esse amor que nos impele a deixarmos o egoísmo para trás, a oferecer o melhor de nós mesmos a outra pessoa, que nos motiva a nos melhorar e a acreditar que somos capazes de ser melhores, não por nossa própria força e arte, mas por esse alguém que nos anima de forma tantas vezes imperceptível…
Quando se ama, tem-se, assim, dois amores: tanto a pessoa que se ama, bem como o amor que se sente.
Tem, no entanto, um problema este outro amor: é um amor derivado! Ele só existe, porque amamos alguém… Ora, nem sempre se ama a pessoa a certa! Nem sempre se ama quem nos valoriza e reconhece! Nem sempre se ama quem nos ama de volta! Nem sempre se ama quem saiba bem amar! Pelo que, não raras vezes, chega o momento em que não mais podemos fugir à voz da razão que em nós se manifesta e avisa para seguirmos por outro caminho… Pode resistir-se-lhe, evidentemente. Até porque, de início, o amor nos parece ter preso a essa outra pessoa de uma forma inelutável. Com o tempo, porém, podemos perceber que, se calhar, já não é o amor que nos prende, mas somos nós que nos prendemos a ele… Deixar de amar custa, porque não estamos só a abrir mão de alguém, mas porque, principalmente e simultaneamente, sentimos que estamos a abdicar de uma parte de nós que tanto acalentamos! A tal flor, o tal filho…
É difícil aprender a largar algo que tivemos por tão querido e tão precioso para nós! Que nos preenchia tão intensamente, e que, agora, parece deixar um buraco sem fundo, como se, ao arrancarmos aquela flor, tivéssemos acabado por arrancar, inadvertidamente, o nosso próprio coração… Mais ainda, quando, em certas circunstâncias, podemos ter a pessoa que tanto amámos, mas que tanto nos desiludiu, magoou ou desrespeitou, a implorar-nos por uma nova oportunidade, a jurar-nos que tudo será diferente! Pois que, no lugar do amor que nos fazia dar o nosso melhor ao mundo, parece apenas restar agora um coração endurecido, que é capaz de ser tão aparentemente cruel para quem algo nos suplica… São dúvidas, são escrúpulos, são fantasmas, o que nos parece atacar, pôr em sobressalto e fazer reféns.
É preciso ter coragem para largar desse amor. É preciso ter força! Porque, em certas pessoas, chega mesmo a ser-lhes perceptível que, ao largarem dele, estão a sentenciar à morte uma parte de si mesmas. E, ainda mais, quando no tumulto de tão fortes sentimentos, se confunde que essa parte de que se está a largar e a deixar morrer é o que de melhor existe em nós. Porque não é assim! O melhor de nós fica sempre connosco: a capacidade de amar. Quando somos capazes de amar, somos capazes de renascer!
Por isso, não tenhamos medo de fazer os nossos lutos, por muito que eles nos custem e por muito que nos roubem um pouco da nossa esperança. Desistir de um amor e seguir em frente não significa, necessariamente, a vitória do egoísmo, da crueldade ou da indiferença em nós, mas, antes, pode significar a vitória da nossa própria dignidade pessoal. É que não basta amar! É preciso saber bem amar…

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

El tiempo hace lejano
El tiempo que tuvimos…

El adiós llegó temprano

Y deprisa nos despedimos!


Se quedó la recordación

Con tu lugar a mi mesa…

Y me hizo tanta emoción

Que el pecho lleno me pesa!


Es soledad lo que resiste,

Que llora casi sin sonido

Por el dolor me haber cogido…


Es soledad lo que existe

En mi corazón, aún herido,

Por saberme de ti perdido!

sábado, 27 de dezembro de 2008

Se, em teu coração, entrasse,
Veria o medo que aí se abriga
De acolher quem não lograsse
Ser de ti pessoa amiga…

Porque é gentil o ser que és,
Que com pouco se magoa e fere…
E chega a multiplicar por dez
A dor que, de um susto só, se gere!

Mas teu coração não invado
(Para ladrão não aparentar…)
Sem que me deixes lá entrar!

Fico, só de fora, inebriado
Pela doçura tanta do teu olhar
Que um sorriso transforma em mar…

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Dá-me a tua mão como quem não quer a coisa
Para eu não ser ladrão ao tomá-la onde ela poisa
Dá-ma com o carinho de quem por mim tem amor
Para sentir de mim vizinho o teu toque e o teu calor

Rasga essa vergonha que te prende de ma dar
A timidez medonha que à coragem quer calar
Deixa que te tome uma força de vontade
Que mate o medo à fome e à sede a dificuldade

Olha que o tempo passa como areia por entre dedos
Por nós não se embaraça nem nos guarda os segredos
O que ainda não se sabe há-de um dia se saber
Por muito que se aldrabe a verdade há-de vencer

Se derrotada te fizeres pelo muito que te custa
Só chegarás ao que queres em idade já vetusta
Sentirás vergonha então da vergonha que tiveste
Que fez cativo o coração e à fé tornou agreste

Dá-me a tua mão antes que se faça tarde
Sem armar confusão ou motivos para alarde
Dá-ma com o carinho que tens em ti para me dar
Para ter em ti um ninho onde amor eu hei-de achar

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

“Não quero sofrer mais!”
Não é raro encontrar este eco a ressoar no interior de nós… Sofrer não magoa e fere somente, também cansa! Cansa acreditar para, depois, só encontrar desilusão. E confunde! Porque nos culpabilizamos de nos termos permitido sonhar… Mais vale não pensar. Mais vale fugir de expectativas renovadas que se anunciem ao virar da esquina. Ou então boicotá-las desde o seu berço, maltratando e afastando quem se atreva a tentar reanimá-las. Como um porto que não permite a entrada de nenhum navio, mantendo-os ao largo, com medo de que algum, de entre eles, só esteja interessado em o saquear…
Se, ao invés, me mantiver quieto e sossegado… Se abandonar qualquer aspiração e desistir de tentar… Se for discreto… Quem sabe? Talvez que o tempo vá passando, a vida se vá levando, e o próprio sofrimento desista de mim!
E, então, os anos sucedem-se. Uns atrás dos outros, e nós atrás deles, protegidos pela nossa escolha de comodidade. Sem perceber que o caminho que tomámos nos vai levar a uma encruzilhada de três possibilidades: ou vivemos sempre fugindo, inclusive da nossa própria sombra, enganando o nosso coração e distraindo o nosso espírito, temendo até mais a vida do que a morte; ou, havendo um momento em que não consigamos fugir mais, nos vamos confrontar com o que existe em nós, para o bem e para o mal, descobrindo-o da capa de indiferença em que o tínhamos soterrado e escondido. Neste último caso, ou reencontramos o tal sofrimento de que tínhamos fugido, agora ainda mais amargo e azedo, estragado pela passagem do tempo que o torna intragável, ou não o encontramos de todo, o que, de início, pode ser consolador, mas, mais tarde, se torna pesado, porque se chega à conclusão que até o sofrimento já não quer nada connosco, como se já não fossemos nem merecedores da sua atenção… Três possibilidades! Fugir até à morte, inebriando-nos (ou melhor, porque se deve ser cru!), embebedando-nos com o que tivermos à mão… Não conseguindo fugir para sempre, chegar a um ponto em que ou percebemos que fugimos em vão, perdemos o nosso tempo, porque a dor continua lá e ainda mais forte, ou percebemos que alcançamos o que desejávamos, a indiferença, a descrença, que, por si só, fazem dessa nossa vitória algo bem amargo… (talvez que fosse melhor não termos razão!)
O problema do porto, que mantém os navios ao largo para não correr o risco de ser saqueado, é permitir que o seu medo o impeça de cumprir o fim para o qual foi criado: precisamente, receber navios! Ao não fazê-lo, ele trai-se a si mesmo. Assim também, um ser vivente foi feito para viver, com todos os seus riscos, e não para ser um morto-vivo… Fui eu feito para me esconder do mundo ou para viver no mundo? É certo que viver deixa marcas, e algumas bem dolorosas, mas deixar de viver na totalidade por medo delas é dar-lhes mais importância, é reconhecer-lhes mais valor do que à nossa vida! É acreditar erroneamente que a dor é maior do que nós, e que justifica que nos anulemos em face dela, em vez de perceber a verdade que reside em sermos bem maiores do que ela! O que não devemos fazer é trair a vida que existe em nós, mas, antes, fazermo-nos seus condutores de modo a que ela possa fluir por nós para chegar a alguém mais…

sábado, 29 de novembro de 2008

Há quem precise tanto
De uma voz amiga,
Porque há nela encanto
Que, à bonança, nos liga!

Uma sensação de lar
Que em nós desabrocha;
Que, connosco, forma um par
E, na noss’alma, s’enrosca…

Faz o vazio se encher de quente,
Num abraço de calor dormente,
Que da solidão arranca e liberta!

Traz a paz ao coração da gente,
Assustado p’lo medo doente
De ser pouco, nada ou coisa incerta…